Eu
compartilho da opinião do escritor inglês Samuel Johnson:
“Viajar
só tem vantagens: Se formos para países melhores, podemos aprender a melhorar o
nosso. Se pararmos em países piores, podemos passar a apreciar o nosso.”
Antes
de qualquer coisa, agradeço ao SEBRAE/PR pela oportunidade das aulas de
desenvolvimento econômico “in-loco” que experimentei. Nas pouco mais de 3
semanas em que estivemos na Ásia tive a oportunidade de observar e discutir
diversos aspectos do desenvolvimento de uma nação que não tive mesmo com os
anos de estudo. Há nuanças culturais, sociais e políticas que interferem no
desenvolvimento econômico e que somente poderia conhecer conversando com as
pessoas que conversei, visitando as instituições e sentindo-se o clima do
local.
Essa
missão fortaleceu ainda minha convicção de que foco, planejamento e perseverança
são cruciais para o sucesso. Eu aprendi que não há limites para o
empreendedorismo e para a transformação de uma sociedade e de um país. E não
preciso dar exemplos a partir das instituições de apoio as MPEs e ao
empreendedorismo que visitamos e cujas reflexões estão muito bem relatadas nos
posts desse blog. Na Coréia do Sul, conhecemos IFEZ (Incheon Free Economic
Zone), uma imensa área próxima a Seoul que há 10 anos atrás era mar e que hoje
abriga imensos arranha-céus e já atrai as melhores universidades do mundo e
grandes multinacionais. Em Dubai, conheci uma cidade criada no meio do deserto
em que as áreas verdes só existem graças a milhares de quilômetros em
encanamentos de irrigação. Curiosamente, as visitas me fizeram lembrar de um
filme que havia visto há muitos anos e que, refletindo melhor agora, possui uma
forte mensagem sobre o comportamento empreendedor. No filme “Campo dos Sonhos”
o personagem, interpretado pelo ator Kevin Costner, têm uma visão e constrói um
campo de baseball no meio de uma plantação de milho no interior dos EUA,
atraindo os melhores jogadores de todos os tempos. Nesse filme havia uma “voz”
sempre lhe dizendo... “if you build it, they will come” (“se você construir,
eles virão”). Penso que isso se aplica muito bem ao que descobrimos por meio
dessa missão. É preciso antes de tudo ter uma visão, acreditar que é possível,
planejar e executar. Se você criar as oportunidades e as condições para a
atração de negócios, eles virão ou surgirão.
Na
década de 1950 a renda per capita da Coréia do Sul era de pouco mais de US$ 70
dólares (isso mesmo setenta dólares por ano); Dubai e Cingapura eram vilas de
pescadores. As fotos neste blog falam por si mesmas sobre o grau de
desenvolvimento que estes países lograram e que, comparados com o Brasil, têm
uma situação muito mais adversa em termos de recursos naturais. Nesse sentido,
pude recordar de uma idéia sobre desenvolvimento econômico debatida na
academia, especialmente na década de 1990. A tese da “maldição dos recursos
naturais” foi amparada em evidências empíricas de que países com uma abundância
em recursos naturais (sobretudo petróleo) tenderiam a crescer de forma mais
lenta que países com recursos mais escassos. Coréia e Cingapura suportam essa
evidência, sendo absolutamente escassos em recursos naturais, desenvolvendo
suas economias a partir de um modelo de crescimento baseado em
exportações/comércio exterior.
Aliás,
esse modelo de industrialização orientada para exportações, amplamente adotado
pelos “tigres asiáticos”, ainda que em uma nova roupagem combinada com serviços
e novas tecnologias, continua a mostrar-se bem sucedido para o desenvolvimento
dos países (ainda que o foco hoje seja a inovação e conhecimento), mesmo após a
crise monetária de 1997. Sei que é clichê, mas é impossível deixar de notar o
quão global é o nível de competição ao qual as empresas estão submetidas! Na
Malásia visitamos uma pequena empresa que produz biscoitos, exporta 70% da
produção para China e recentemente descobriu que sua marca estava sendo
“pirateada” por competidores chineses. Em Cingapura, visitamos uma startup em
fase de pré-encubação formada por uma Cingaporeana, um Sueco, uma Norueguesa e
uma sul-africana e que produz luvas para frio e que podem ser utilizadas em
telas sensíveis ao toque de smartphones. Pois bem, essa firma já está
viabilizando canais de distribuição nos principais países com invernos
rigorosos do mundo. A internacionalização está no DNA dessas empresas!
Nesse
sentido, possivelmente devido ao amplo mercado doméstico que temos no Brasil o
mercado externo ainda está fora do radar da grande maioria das MPEs
brasileiras. Mas se o Brasil almeja de fato ser um importante player no mercado
mundial não podemos ignorar o papel que as micro, pequenas e médias empresas
deveriam buscar. Temos vantagens comparativas na produção de commodities, isto
é fato. Mas esse modelo se prova cada vez menos sustentável. A competição lá
fora é feroz e os governos asiáticos têm políticas consistentes que procuram
desenvolver o novo “hidden champion”, isto é a nova LG, Samsumg, Hyundai. As
instituições de apoio que visitamos, de uma forma geral, procuram não “atender”
uma pequena empresa, mas sim “desenvolvê-la” (juntamente com seus CEOs,
líderes) para que possam crescer, criar empregos e exportar.
Outra
conclusão que trago da viagem é que um Estado “pró-business”, isto é, voltado a
melhorar sua posição no ranking “doing business” do Banco Mundial e assim
aprimorar o ambiente de negócios, não é necessariamente um Estado liberal, ou
seja, adeptos do laissez-faire. A história do governo da Coréia do Sul,
Malásia, Cingapura e Dubai é de um Estado forte, atuante e diria
intervencionista. É a historia do planejamento e execução da estratégia de
desenvolvimento de um país. Provavelmente os asiáticos devem ter algo similar
ao provérbio latino “res, non verba”, pois levam muito seriamente a execução
dos planos e metas, ou seja, “ação e não palavras”.
Mas
e ai? O que pode ser feito? O objetivo da missão é fazer um benchmarking com
instituições internacionais acerca de políticas de apoio a inovação e
empreendedorismo. Em um processo de benchmarking é preciso a todo momento
comparar o Brasil e o SEBRAE com a instituição visitada, identificando as boas
práticas e pensando em formas de adaptá-la à realidade local. Nenhum dos países
se compara ao Brasil em termos de área de população. Certamente é muito mais
complexo planejar um país com as dimensões continentais e tamanhas disparidades
regionais que observamos no Brasil. Contudo podemos começar pelos municípios e
pelo Paraná. Temos boas instituições no Estado do Paraná e os recursos não são
necessariamente escassos. Porém, por não haver um claro plano de
desenvolvimento do país e do Estado, os recursos não são empregados com a
eficácia e efetividade que poderiam.
Nos
países visitados, o arranjo institucional claro, com os papéis das instituições
bem definidos, somados a um claro objetivo a ser alcançado resulta na
eliminação de sobreposições e melhor aplicação de recursos. Tenho consciência
das diferenças regionais no Brasil, mas podemos afirmar que de fato demos
importantes passos nos últimos anos no que se refere à redução da pobreza e
inclusão social. Está ai a “nova classe média”. Eu arrisco dizer que está na
hora de dar um passo adiante, de rever as políticas assistencialistas, e
planejar um Brasil “classe mundial”. Com o recente crescimento da renda e o
surgimento de muitas oportunidades de negócios a política econômica deveria
voltar-se à eliminação dos entraves aos negócios (complexidade tributária,
infra-estrutura precária, etc.).
A
despeito de todos os problemas o Brasil é um excelente país para se viver e
mesmo para se fazer negócios. Imagina então o que poderia ser desse país se os
entraves à competitividade fossem eliminados? Sou apaixonado pelo país e otimista
de que podemos deixar à geração de meu filho um país melhor.
Agradeço
aos colegas de viagem, Allan, Heverson, Renata e Rainer pela convivência e
troca de idéias. A missão Ásia foi muito bem cumprida, mas a missão SEBRAE/PR
2022 está somente começando. Parabenizo o SEBRAE/PR, em especial ao Conselho
Diretivo pela visão e ousadia. Estou certo de que em alguns anos, ao olhar para
trás, terei orgulho de ter feito parte dessa equipe que fez a diferença no
destino de muitos empreendedores do Paraná e quiçá do Brasil.
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